Encontrei paz ao aceitar minha insignificância – André Luiz Santiago Eleutério

Foto de André Luiz Santiago Eleutério, autor do Pensamento Diário com reflexões emocionais sobre a vida
André Luiz Santiago Eleutério

Uma das coisas mais fortes e transformadoras que a vida me ensinou foi aceitar a minha insignificância. E não, isso não significa que eu me sinta pequeno ou sem valor. Pelo contrário. Foi exatamente nesse entendimento que eu descobri o tamanho do meu coração, a força da minha alma e a paz que existe em parar de lutar por espaços que nunca foram meus.

Durante muito tempo, eu me esforçava demais. Tentava agradar a todos. Queria ser aceito, reconhecido, bem-visto. Fazia questão de estar presente, de mostrar que me importava, que era confiável, que podia ser alguém importante na vida das pessoas. E sabe o que aconteceu? Me perdi. Me doei tanto que acabei esquecendo de mim. Esperei demais de gente que nunca soube me ver. E quanto mais eu esperava, mais eu me frustrava. Porque, na verdade, eu só estava tentando conquistar um lugar em vidas onde eu era apenas uma opção, nunca uma prioridade.

Foi nesse momento que algo dentro de mim começou a mudar. Eu comecei a olhar para tudo com mais clareza. Percebi que me desgastar por quem não demonstra consideração é se machucar devagar, todos os dias. Percebi que mendigar atenção é negar meu próprio valor. E que permanecer onde não sou respeitado é me abandonar.

Aceitar minha insignificância foi o meu grito de liberdade. Foi o ponto de virada. Porque ali eu compreendi que não preciso ser importante para todo mundo. Eu só preciso ser inteiro para mim mesmo. Não sou responsável pelas expectativas dos outros, nem pelas ausências que não escolhi. Mas sou, sim, responsável por me recolher quando o ambiente começa a me ferir. Sou responsável por me afastar de relações que me diminuem, de palavras que me atravessam como facas, de silêncios que gritam desprezo.

Foi no recolhimento que reencontrei minha paz. E não foi fácil. No início, a solidão parecia assustadora. Mas, com o tempo, ela se transformou em refúgio. Eu me olhei com mais calma. Me abracei com mais verdade. Descobri que estar só não significa estar perdido. Significa, muitas vezes, estar em processo de cura.

Tem gente que só nos procura quando precisa. Gente que só aparece quando é conveniente. Gente que acha que nossa presença é garantida, mesmo quando não oferece nada em troca. E eu cansei disso. Cansei de relações que funcionam como via de mão única. Onde eu dou tudo e recebo quase nada.

Hoje, eu escolho estar com quem também escolhe estar comigo. Com quem retribui, com quem respeita, com quem cuida. Porque amor não é peso, é leveza. Respeito não se implora, se demonstra. E consideração não se cobra, se sente.

Quando a gente entende isso, tudo muda. A vida se reorganiza. A alma respira. O coração desincha. E a gente começa a viver com mais verdade. Porque o problema nunca foi ser sensível demais, intenso demais, leal demais. O problema era tentar encaixar tudo isso em corações que não sabiam receber.

Hoje, eu me recuso a ficar onde sou apenas mais um. Onde minha presença não faz diferença. Onde meu silêncio não é notado. Me recuso a me apagar para caber. A me calar para evitar conflitos. A me esquecer para agradar. Eu aprendi que não devo mais lutar por quem não luta por mim.

Se não há espaço, eu me retiro. Se não há reciprocidade, eu paro. Se não há respeito, eu me protejo. Não por orgulho, mas por amor. Amor por mim. Por tudo o que senti, por tudo o que carreguei em silêncio, por tudo o que sobrevivi.

Muita gente vai dizer que é exagero. Que é drama. Que é egoísmo. Mas só quem viveu na pele o cansaço de ser sempre o que sustenta, o que aguenta, o que espera, entende o alívio de se afastar. E eu me afastei. De alguns lugares. De algumas pessoas. De algumas versões de mim que já não me serviam mais.

E foi no silêncio desse afastamento que eu me ouvi de novo. Que eu voltei a escrever para mim. Que reencontrei minha essência. Porque a gente se perde tentando caber. Se esgota tentando ser suficiente. E, às vezes, só o vazio é capaz de nos lembrar do que realmente importa.

Não preciso ser o melhor amigo, o melhor parceiro, o mais presente, o mais compreensivo, o mais tudo. Preciso apenas ser verdadeiro. Comigo e com os outros. E verdade, às vezes, é dizer “não”. É ir embora. É se proteger. É reconhecer que aquilo que eu queria tanto talvez nunca existiu como imaginei.

Hoje, quando me olho no espelho, vejo alguém mais leve. Alguém que ainda sente, mas que não se prende. Que ainda se importa, mas que não se anula. Que ainda ama, mas que aprendeu a amar a si mesmo em primeiro lugar.

Aceitar a minha insignificância foi, na verdade, aceitar que tudo bem não ser tudo para todo mundo. Que tudo bem não ser lembrado sempre. Que tudo bem ser esquecido por alguns, desde que eu nunca me esqueça de mim. Porque, no fim, é isso que me mantém em pé: o amor que decidi cultivar por mim mesmo.

E se você, em algum momento, se sentir pequeno demais, deslocado, esquecido, rejeitado… não se desespere. Talvez seja só o início do seu reencontro. Talvez você esteja apenas descobrindo a força que existe em se recolher. E, quem sabe, nesse silêncio, você encontre o mesmo que eu encontrei: paz.

Autor Andre Luiz Santiago Eleuterio

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