
Tem dias que a gente para e pensa: “por que crescer virou tão difícil assim?” Quando eu era criança, sonhava em ser adulto. Imaginava como seria bom poder escolher tudo por conta própria. Queria mandar em mim, decidir o que comer, o que vestir, onde ir. Achava que liberdade era isso: ser gente grande. Mas hoje, com tantos boletos, responsabilidades, cobranças e cansaços que nem o sono cura, eu só queria voltar. Voltar no tempo. Voltar pra aquele lugar onde a maior preocupação era não deixar o sorvete cair no chão. Voltar pra aquele tempo em que o choro acabava com um colo de mãe e tudo que eu precisava era de um abraço apertado pra me lembrar que tava tudo bem.
Hoje, a vida adulta parece grande demais pra caber dentro da gente. É muita conta, muita pressão, muita comparação, muita correria e, no meio de tudo isso, quase nada de paz. A gente se perde tentando ser forte o tempo todo. A gente se esconde atrás de sorrisos cansados, de frases prontas, de respostas que não dizem nada. E no fundo, tudo o que a gente queria era alguém que olhasse nos nossos olhos e dissesse: “você não precisa dar conta de tudo”.
Tem dias que eu não quero mais ser dono de mim. Queria só ser filho de novo. Ter alguém que segurasse minha mão e dissesse qual caminho seguir. Queria brincar sem medo do amanhã, dormir sem culpa, acordar sem ansiedade. Queria a simplicidade de antes. Queria de volta aqueles pedacinhos soltos de felicidade que vinham sem aviso, sem esforço, sem cobrança. Aqueles instantes pequenos que, agora, parecem enormes só porque faz tempo que a gente não sente.
A verdade é que a gente sente falta do que era leve. Sente saudade do que não entendia, mas fazia bem. Hoje a gente entende tudo, mas se sente vazio. A gente cresceu e perdeu coisas no caminho. E não são coisas que o dinheiro compra. São momentos. São sentimentos. São abraços. São silêncios que curavam. São olhares que diziam tudo. São certezas simples que o tempo levou.
E se você se sente assim também, saiba que não está sozinho. Tem muita gente grande por aí querendo voltar pra infância. Querendo uma pausa, um colo, uma direção. Querendo ser cuidado em vez de cuidar o tempo todo. Querendo respirar. Porque crescer é isso: descobrir que a liberdade tem um preço. E que, muitas vezes, tudo o que a gente quer é um pouco daquilo que deixou pra trás.
Hoje, eu não quero ser forte. Não quero ser o exemplo. Quero ser só alguém que sente. Que lembra. Que chora. Que ama. E que ainda guarda, dentro do peito, um pouquinho daquela criança que acreditava que ser feliz era simples.